segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O cheiro do Natal


Alguns cheiros abrem nossos baús de lembranças com tanta rapidez e as fazem desfilar diante de nós com imagens, sons, sensações e emoções, como se fossem muito recentes!
O cheiro de pernil assado no forno, da farofa fresca e atraente, da maionese generosamente coberta com azeite e creme e do arroz branco soltinho e com passas, é para mim, o cheiro do Natal.
Basta sentir esse cheiro e ser remetido imediatamente à véspera de um natal qualquer de minha infância. Mamãe passara o dia inteiro a assar o pernil e a cozinhar as outras iguarias deliciosas para a nossa ceia de Natal!
Antes, porém, da Ceia, por volta de 7 horas da noite, íamos à igreja, às vezes de bonde, às vezes de carro (quando já o tínhamos), às vezes de taxi (para a alegria do taxista)... Em lá chegando encontrávamos a igreja cheia de amigos, familiares, primos e primas, todos exibindo suas roupas novas ganhas para a data, tudo com cheirinho de novo... Como era fácil para nossos pais nos alegrarem! Com o passar dos anos, ficamos mais complicados e exigentes, bem mais difíceis de agradar.
Depois do culto festivo na igreja, com direito a cantata do coral e a bandinha de crianças (eu tocava pandeiro ou prato), ficávamos uma eternidade abraçando cada um e dizendo, como papagaios recém treinados: “Feliz Natal, Feliz Natal, Feliz Natal...”
Passados aqueles momentos solenes, todos céleres, íamos para nossas casas, quase que guiados pelo cheiro que impregnara-se em nossas narinas, dia inteiro... Já era quase meia-noite, mas nós crianças tínhamos um indulto para ficar acordadas até tarde, única noite do ano em que isso era possível!
Vibrávamos e aproveitávamos ao máximo essa régia permissão de nossos pais e contávamos cada segundo para a chegada da grande hora: a hora de sentar-se à mesa e participar da Ceia de Natal. O lugar mais maravilhoso da terra!
Engraçado, a espera pela Ceia era mais gostosa que a própria Ceia...
Após a Ceia, íamos dormir...
Mais um Natal passava... Mais uma lembrança dourada fora entesourada no baú de meu coração, para sempre... Para toda a eternidade!
Engraçado que na manhã seguinte haveria presentes embaixo de nossas camas, mas me lembro pouco desses presentes...
Até hoje, quando sinto o “cheiro do Natal”, não preciso de sermões de natal, nem de refletir sobre o que seja o Natal, nem nada do tipo! Apenas preciso inalar o sagrado cheiro e assentar-me na sala das lembranças... Lembranças que me ensinam... Lembranças que me avivam... Lembranças que me inspiram.
Não tem cheiro mais lindo que o cheiro do Natal!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...