Alguns cheiros abrem nossos baús de
lembranças com tanta rapidez e as fazem desfilar diante de nós com imagens,
sons, sensações e emoções, como se fossem muito recentes!
O cheiro de pernil assado no forno,
da farofa fresca e atraente, da maionese generosamente coberta com azeite e
creme e do arroz branco soltinho e com passas, é para mim, o cheiro do Natal.
Basta sentir esse cheiro e ser
remetido imediatamente à véspera de um natal qualquer de minha infância. Mamãe passara
o dia inteiro a assar o pernil e a cozinhar as outras iguarias deliciosas para
a nossa ceia de Natal!
Antes, porém, da Ceia, por volta de
7 horas da noite, íamos à igreja, às vezes de bonde, às vezes de carro (quando
já o tínhamos), às vezes de taxi (para a alegria do taxista)... Em lá chegando
encontrávamos a igreja cheia de amigos, familiares, primos e primas, todos
exibindo suas roupas novas ganhas para a data, tudo com cheirinho de novo...
Como era fácil para nossos pais nos alegrarem! Com o passar dos anos, ficamos mais
complicados e exigentes, bem mais difíceis de agradar.
Depois do culto festivo na igreja,
com direito a cantata do coral e a bandinha de crianças (eu tocava pandeiro ou
prato), ficávamos uma eternidade abraçando cada um e dizendo, como papagaios
recém treinados: “Feliz Natal, Feliz Natal, Feliz Natal...”
Passados aqueles momentos solenes,
todos céleres, íamos para nossas casas, quase que guiados pelo cheiro que
impregnara-se em nossas narinas, dia inteiro... Já era quase meia-noite, mas nós
crianças tínhamos um indulto para ficar acordadas até tarde, única noite do ano
em que isso era possível!
Vibrávamos e aproveitávamos ao
máximo essa régia permissão de nossos pais e contávamos cada segundo para a
chegada da grande hora: a hora de sentar-se à mesa e participar da Ceia de
Natal. O lugar mais maravilhoso da terra!
Engraçado, a espera pela Ceia era
mais gostosa que a própria Ceia...
Após a Ceia, íamos dormir...
Mais um Natal passava... Mais uma
lembrança dourada fora entesourada no baú de meu coração, para sempre... Para
toda a eternidade!
Engraçado que na manhã seguinte
haveria presentes embaixo de nossas camas, mas me lembro pouco desses
presentes...
Até hoje, quando sinto o “cheiro do
Natal”, não preciso de sermões de natal, nem de refletir sobre o que seja o
Natal, nem nada do tipo! Apenas preciso inalar o sagrado cheiro e assentar-me
na sala das lembranças... Lembranças que me ensinam... Lembranças que me
avivam... Lembranças que me inspiram.
Não tem cheiro mais lindo que o
cheiro do Natal!
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